O poder governamental sempre foi
considerado afrodisíaco, uma sensação humana que poucos têm o privilégio de
desfrutar, mas de efeitos fantásticos sobre aqueles que o detém. Frequentei por
um ano os corredores do poder quando fui assessor do Ministro do Planejamento,
e todos os meus amigos querem saber como foi a experiência, como é de fato este
tal de "poder".
Eu, honestamente, não sei de onde
vem este mito orgásmico.
Claro, um número enorme de
pessoas que lhe tratam com reverência aumenta, o número de puxa sacos explode,
o telefone não para de tocar com pedidos de audiência. Mas alguém que quer
realizar algo de bom e concreto volta absolutamente frustrado.
Quem está acostumado a realizar
coisas na vida privada fica absolutamente estarrecido com a lentidão e inércia
do governo. Ninguém é formado em administração, nem começa a haver diálogo,
ninguém entende o que é administrar a coisa pública.
Infelizmente, nestes últimos 50
anos nunca tivemos um Presidente da República e poucos ministros que tenham
trabalhado numa das 500 maiores empresas privadas deste país.
Executivos acostumados à pressão
de gerenciar planos e orçamentos de forma moderna. Profissionais que
conhecessem a fundo as dezenas de disciplinas da administração, gerência de recursos
humanos, controladoria, análise de sistemas, gerenciamento do crescimento,
administração financeira, apuração contábil, estratégia e planejamento para
disseminá-las aos seus subordinados. E, mais importante, com experiência de
implantar aquilo que parece perfeito no papel.
Nossos governos, de 1964 para cá,
foram administrados por professores universitários, teóricos, bons de fala e
bons escritores de artigos em jornal. Quem conheceu no passado as grandes
empresas como a Telebras ou a Matarazzo sabe como elas também eram paquidermes
lentos e pesados. Quanto maior a empresa ou governo, pior é a sua capacidade de
responder às demandas da sociedade.
Por isto, não entendo porque
tantos intelectuais lutam para ter governos cada vez maiores e máximos, em vez
de governos enxutos e eficientes. Se empresas que detêm 1% do PIB tiveram de
enxugar, fizeram a famosa reengenharia tão criticada pelos nossos intelectuais,
o que dizer do nosso governo que detém 60% do PIB entre impostos arrecadados e
controle de estatais?
Se a GM que tem 0,1% do PIB está
quebrando, o que dizer de quem tem 60%?
O poder é afrodisíaco para quem é
incompetente.
Eles, que jamais fariam algo na
vida, podem agora ficar sentados e ouvir os planos das pessoas competentes que
precisam de aprovação do governo para fazer o que precisa ser feito.
São os gestores que gesticulam,
não administradores que administram.
Eles só precisam decidir quem
está propondo a melhor ideia, e muitas vezes nem isto sabem fazer. Entreviste
os poucos administradores que já trabalharam no governo. Pessoas como o
Antoninho Trevisan, Alcides Tapias ou o Furlan, e eles dirão como é frustrante
trabalhar no governo. Pergunte para algum deles se pensam algum dia em voltar
ao poder.
Por outro lado, pessoas que veem
o poder como forma de aparecer, que adoram ser bajuladas por puxa sacos, que
adoram os holofotes do cargo público, estes de fato acham o poder afrodisíaco e
só pensam em voltar.
Vários leitores me perguntam por
que não vou para o governo, e esta é a razão. Não se muda o mundo de cima para
baixo como antigamente. Um Stalin ou um Mao não conseguiriam fazer nada hoje em
dia, especialmente no Brasil. O único poder que temos para mudar o Brasil, não
é mais o poder de mando.
O único poder que funciona no mundo
moderno é o poder das pequenas coisas, o poder do exemplo, o poder das ideias,
e este poder que eu exerço aqui.
O poder da persuasão.
Stephen Charles Kanitz é consultor
de empresas e conferencista brasileiro, mestre em Administração de Empresas da
Harvard Business School e bacharel em Contabilidade pela Universidade de São
Paulo. Criador do Prêmio Bem Eficiente para entidades sem fins lucrativos e do
site www.voluntarios.com.br. Criador de Melhores e Maiores da Revista Exame,
avaliou até 1995 as 1000 maiores empresas do país. Sua experiência como
consultor lhe rendeu vários prêmios: Prêmio ABAMEC Analista Financeiro do Ano,
Prêmio JABUTI 1995 - Câmara Brasileira do Livro e o Prêmio ANEFAC. É árbitro da
BOVESPA na Câmara de Arbitragem do Novo Mercado. É também articulista da Revista
Veja.
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