Mesmo
após a onda de manifestações de julho de 2013, partidos e políticos parecem não
dialogar com os jovens que não querem votar em pessoas, mas em ideias. Entre os
entrevistados, 67% não têm partido político de preferência, 53% não simpatizam
com nenhum deles. E eles dizem não querer votar em partidos, mas em causas. “Em
tempos de campanhas eleitorais, está nítida a incapacidade dos partidos de
acolherem o jovem contemporâneo, seus anseios e linguagem. Nenhuma das
campanhas presidenciais soube usar a energia das ruas e levantar as bandeiras
dos jovens. Os partidos seguem falando para si entre si”, diz Beatriz Pedreira
cientista social e também uma das coordenadoras da pesquisa.
Para responder “Por que 2013 foi tão marcante na história do
país?”, a pesquisa contou com a participação de 1400 jovens, entre 18 e 32 anos
de idade. Este recorte atinge os nascidos entre 1982 e 1996, período que começa
na redemocratização e vai até o surgimento da internet. Na etapa
qualitativa, participaram 300 jovens que já atuavam politicamente. A partir
destas conversas, foram criados os questionários para a fase quantitativa, onde
participaram 1128 jovens das classes A, B e C.
O levantamento mostra que 91% dos entrevistados tomaram
conhecimento das manifestações e 18% saíram às ruas, o que significa em números
absolutos 6,5 milhões no chamado “encontro do jovem com a democracia”.
Dos
pesquisados, 30% deles defendem uma ou mais causas, a maior parte ligadas às
suas questões cotidianas. Enquanto 68% declaram que a questão de segurança é
algo “muito problemático” onde vivem e 61% simpatizam com a cultura de paz como
bandeira. Outros 60% se mobilizam pela inclusão/igualdade social, 58% se
interessam pela questão ambiental, mesma porcentagem daqueles defendem a
cultura da periferia. Por fim, 55% lutam por internet livre.
Quem acaba representando as causas dos jovens são os próprios
jovens, especialmente dois perfis levantados pela pesquisa: os Agentes e os Mobilizadores,
que representam 16% dos jovens pesquisados (mais de 6.5 milhões de jovens).
Estes perfis têm alto poder de influência sobre outros jovens e familiares. 49%
declaram que influenciam mobilizando pessoas em torno das causas/ideais e
atitudes com as quais se identificam.
A
pesquisa também aponta para um grande protagonismo jovem, um “mãos à obra” e
uma vontade de resolver as questões que preocupam sem esperar que isso venha do
poder público. “A sensação clara é de que ‘se o governo não faz, eu não vou
esperar, vou começar a fazer’, explica Carla Mayumi, uma das coordenadoras do
projeto.
Desde 2011, quando a pesquisa Sonho Brasileiro foi
realizada, a percepção de que o jovem é um agente de mudanças aumentou
consideravelmente. Há três anos, 20% dos entrevistados acreditavam que pessoas
que se organizam em torno de uma causa comum estavam efetivamente promovendo
mudanças na sociedade. Em 2014, este índice aumentou para 36% na faixa 18-24
anos. Da mesma forma, em 2011, 20% acreditavam que jovens da sua geração
estavam provendo mudanças, índice que subiu para 35% em 2014. Entre os jovens
de 18 a 24 anos, a percepção de que os governantes estão ajudando a sociedade a
mudar é de 22% dos jovens, enquanto 60% acreditam que eles são responsáveis por
isso.

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