sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Jovem não quer votar em partidos, mas em causas

Mesmo após a onda de manifestações de julho de 2013, partidos e políticos parecem não dialogar com os jovens que não querem votar em pessoas, mas em ideias. Entre os entrevistados, 67% não têm partido político de preferência, 53% não simpatizam com nenhum deles. E eles dizem não querer votar em partidos, mas em causas. “Em tempos de campanhas eleitorais, está nítida a incapacidade dos partidos de acolherem o jovem contemporâneo, seus anseios e linguagem. Nenhuma das campanhas presidenciais soube usar a energia das ruas e levantar as bandeiras dos jovens. Os partidos seguem falando para si entre si”, diz Beatriz Pedreira cientista social e também uma das coordenadoras da pesquisa.

Para responder “Por que 2013 foi tão marcante na história do país?”, a pesquisa contou com a participação de 1400 jovens, entre 18 e 32 anos de idade. Este recorte atinge os nascidos entre 1982 e 1996, período que começa na redemocratização e vai até o surgimento da internet.  Na etapa qualitativa, participaram 300 jovens que já atuavam politicamente. A partir destas conversas, foram criados os questionários para a fase quantitativa, onde participaram 1128 jovens das classes A, B e C.
O levantamento mostra que 91% dos entrevistados tomaram conhecimento das manifestações e 18% saíram às ruas, o que significa em números absolutos 6,5 milhões no chamado “encontro do jovem com a democracia”.
Dos pesquisados, 30% deles defendem uma ou mais causas, a maior parte ligadas às suas questões cotidianas. Enquanto 68% declaram que a questão de segurança é algo “muito problemático” onde vivem e 61% simpatizam com a cultura de paz como bandeira. Outros 60% se mobilizam pela inclusão/igualdade social, 58% se interessam pela questão ambiental, mesma porcentagem daqueles defendem a cultura da periferia. Por fim, 55% lutam por internet livre.
Quem acaba representando as causas dos jovens são os próprios jovens, especialmente dois perfis levantados pela pesquisa: os Agentes e os Mobilizadores, que representam 16% dos jovens pesquisados (mais de 6.5 milhões de jovens). Estes perfis têm alto poder de influência sobre outros jovens e familiares. 49% declaram que influenciam mobilizando pessoas em torno das causas/ideais e atitudes com as quais se identificam.
A pesquisa também aponta para um grande protagonismo jovem, um “mãos à obra” e uma vontade de resolver as questões que preocupam sem esperar que isso venha do poder público. “A sensação clara é de que ‘se o governo não faz, eu não vou esperar, vou começar a fazer’, explica Carla Mayumi, uma das coordenadoras do projeto.

Desde 2011, quando a pesquisa Sonho Brasileiro foi realizada, a percepção de que o jovem é um agente de mudanças aumentou consideravelmente. Há três anos, 20% dos entrevistados acreditavam que pessoas que se organizam em torno de uma causa comum estavam efetivamente promovendo mudanças na sociedade. Em 2014, este índice aumentou para 36% na faixa 18-24 anos. Da mesma forma, em 2011, 20% acreditavam que jovens da sua geração estavam provendo mudanças, índice que subiu para 35% em 2014. Entre os jovens de 18 a 24 anos, a percepção de que os governantes estão ajudando a sociedade a mudar é de 22% dos jovens, enquanto 60% acreditam que eles são responsáveis por isso.

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