Meu pai tinha um sítio bem longe da
pequena cidade onde morávamos. Eu era apenas uma criança, mas lembro bem
daquela época. Certo dia papai resolveu que ficaríamos por lá mesmo, pois
tínhamos muito trabalho a fazer no outro dia. Quando a noite chegou, eu me
recordo bem, sentei-me em um tamborete que meu pai fazia com pequenas toras de
madeira tiradas do roçado. Ali fiquei apreciando o céu e pensei. Quão grandes
segredos esse imenso universo guarda, e como eram lindas todas aquelas
estrelinhas lá no alto, todas brilhantes, umas mais ofuscantes, outras menos.
Algumas reluziam em diferentes cores
e outras tão pequenas que quase se perdiam da minha vista. Foi então que notei
que papai e mamãe já tinham ido dormir e eu estivera sozinho ali, mas resolvi
ficar mais um pouco. De repente percebi a lua aparecendo um pouco tímida, com
seu brilho amarelo envelhecido pelas nuvens que a cercavam. Notei então que não
estava sozinho, ruído das mais diferentes criaturas me rodeavam, aqueles ruídos
conduziam a noite, não deixando em nenhum momento o silêncio prevalecer. Os
ventos começaram a se fazer presentes tornando a noite fria, as árvores murmuravam
como se algo estivesse a me dizer, os vaga-lumes riscavam o céu como faíscas. E
repentinamente o luar também se expandiu sobre mim, me deixando à mercê do
brilho daquela grande lua cheia. Mas tudo acabou quando mamãe me chamou para
entrar, pois já era tarde.
Autor: Ricardo Costa
Livro: "Palavras", Ed. Protexto, 2007, PR
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