sábado, 30 de março de 2013

Crônica: A NOITE

Meu pai tinha um sítio bem longe da pequena cidade onde morávamos. Eu era apenas uma criança, mas lembro bem daquela época. Certo dia papai resolveu que ficaríamos por lá mesmo, pois tínhamos muito trabalho a fazer no outro dia. Quando a noite chegou, eu me recordo bem, sentei-me em um tamborete que meu pai fazia com pequenas toras de madeira tiradas do roçado. Ali fiquei apreciando o céu e pensei. Quão grandes segredos esse imenso universo guarda, e como eram lindas todas aquelas estrelinhas lá no alto, todas brilhantes, umas mais ofuscantes, outras menos.
            Algumas reluziam em diferentes cores e outras tão pequenas que quase se perdiam da minha vista. Foi então que notei que papai e mamãe já tinham ido dormir e eu estivera sozinho ali, mas resolvi ficar mais um pouco. De repente percebi a lua aparecendo um pouco tímida, com seu brilho amarelo envelhecido pelas nuvens que a cercavam. Notei então que não estava sozinho, ruído das mais diferentes criaturas me rodeavam, aqueles ruídos conduziam a noite, não deixando em nenhum momento o silêncio prevalecer. Os ventos começaram a se fazer presentes tornando a noite fria, as árvores murmuravam como se algo estivesse a me dizer, os vaga-lumes riscavam o céu como faíscas. E repentinamente o luar também se expandiu sobre mim, me deixando à mercê do brilho daquela grande lua cheia. Mas tudo acabou quando mamãe me chamou para entrar, pois já era tarde.

Autor: Ricardo Costa
Livro: "Palavras", Ed. Protexto, 2007, PR

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