quinta-feira, 28 de março de 2013

Festa com protestos


Ambulantes aproveitaram o aniversário do ver-o-peso para denunciar problemas

A comemoração pelos 386 anos do Ver-o-Peso, a maior feira a céu aberto da América Latina, foi marcada por reivindicações de feirantes e ambulantes que ocupam o centro histórico da cidade, ontem. Logo que chegou ao mercado do Ver-o-Peso, o prefeito Zenaldo Coutinho ouviu reclamações sobre a falta de segurança no local, relatos sobre ações "violentas" da Secretaria Municipal de Economia (Secon) para o remanejamento dos feirantes, e a falta de garantias de trabalho para os ambulantes que serão transferidos das ruas centrais do Comércio para o shopping popular da João Alfredo a partir do dia 22 de abril.

O prefeito afirmou que o Ver-o-Peso é "prioridade número um" do PAC Cidades Históricas em Belém. O projeto federal destina recursos para a revitalização de centros históricos de cidades brasileiras. Segundo Zenaldo, os termos do projeto ainda estão em discussão entre órgãos municipais, representantes do Iphan e trabalhadores. Diante das reclamações e solicitações feitas, Zenaldo se comprometeu a atender as lideranças de ambulantes e feirantes em audiência a ser agendada após a Semana Santa.

Mais cedo, às 6 horas, fogos de artifício anunciaram o início das comemorações pelos 386 anos do Ver-o-Peso. Em seguida, uma banda de fanfarra começou a tocar ritmos carnavalescos.

Bolo tinha escudos de remo e Paysandu

O tom exaltado do discurso das lideranças de ambulantes e feirantes no aniversário do Ver-o-Peso foi amenizado no momento do "Parabéns a você", cantado em frente ao Solar da Beira. Este ano, o bolo de 10 metros de comprimento trouxe uma novidade: o desenho dos símbolos de Remo e Paysandu. Uma fila foi formada por pessoas tentando garantir um pedaço do bolo confeitado com as cores do time de preferência. Após a distribuição do bolo, o prefeito seguiu a pé até a praça do Relógio, de onde seguiu para uma caminhada pelas ruas do Bengui.

Trabalhadores cobram explicação

Falando aos feirantes, Zenaldo Coutinho esclareceu questionamentos sobre a ocupação das ruas transversais e o prédio da rua João Alfredo que abrigará o segundo shopping popular de Belém, a partir de abril (o primeiro é o Espaço da Palmeira, inaugurado por Duciomar Costa). Zenaldo afirmou que o problema dos ambulantes será solucionado, mas que a Prefeitura não aceitará a venda de produtos piratas. "Não é problema da Prefeitura, me desculpem. É um problema com a polícia, que vive cobrando, em cima da Secon. O pessoal que vende DVD pirata, eu sei que precisa trabalhar, que tem família, mas não é problema que esteja na minha alçada resolver. Não tenho como regularizar quem vende DVD pirata, e sei que temos vários aqui", afirma.

Sujeira e insegurança preocupam feirantes e afastam clientes

Para a comerciante Marlene Maksunaga, apesar da necessidade de melhorias, sobram motivos para festejar o aniversário do Ver-o-Peso. "Temos muito para festejar. Compro peixe no mercado e tinha até medo de vir. Hoje, já acho que está melhor, mas pode melhorar mais, por exemplo, a circulação nas calçadas e a questão da sujeira. Só o cheiro que não pode acabar; já é característico", diz. A aposentada Domingas de Brito acredita que ações da prefeitura para a limpeza e garantia da segurança na feira podem atrair mais consumidores. "A Prefeitura está ajeitando as coisas por aqui. Temos que confiar em Deus e, em segundo lugar, nas nossas autoridades. Tenho fé de que vai melhorar", afirma Domingas.

Para quem visita pela primeira o Ver-o-Peso, como a professora Ivanilda Oliveira, de Acará, a falta de organização chama a atenção. "Essa feira, com esse ambiente, não deveria existir, porque tem peixe exposto na rua sem nenhuma proteção. É preciso a colaboração de todos e a venda em um ambiente mais adequado", observa.

Por outro lado, o feirante Pedro Paulo Ferreira, que trabalha na rua vendendo peixe há 22 anos, alega que a bagunça "faz parte" da feira. "O Ver-o-Peso é cartão postal pelas pessoas na rua, pela bagunça. A Prefeitura deveria parar de perseguir a gente. Se tentar transformar essa beleza dele, o povo vai estranhar e vai acabar com a nossa venda", opina, acrescentando que a venda restrita ao mercado não garante o sustento de todos os feirantes. Adailton Vila, que trabalha no mercado há 25 anos, cobra mais segurança. "Com certeza, tem muito o que comemorar e o que melhorar. Por exemplo, a segurança, que aqui não temos muita", reclama.

Prefeito promete debater questões

Após anunciar que o shopping popular foi liberado pelo Corpo de Bombeiros para ser ocupado por feirantes remanejados da rua João Alfredo, Zenaldo Coutinho foi interpelado por uma das lideranças presentes às comemorações do aniversário do Ver-o-Peso, que criticou a atuação dos fiscais da Secon e a indefinição sobre o novo prédio.

Zenaldo garantiu que manterá o diálogo com a categoria após a Semana Santa sobre o remanejamento. "Nós vamos conversar e espero que não precise tirar nenhuma banca da rua, que o próprio camarada tire. Eu fiz questão de ouvir as lideranças para depois falar. Vim aqui para festa. Estou fazendo as ações, marcando reunião. Não é pra esculhambar a festa do Ver-o-Peso. Insisto em dizer, diálogo é pra ouvir, mas quando tiver determinação para o conjunto, é respeitar", enfatizou o prefeito.

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