Ambulantes aproveitaram o aniversário do ver-o-peso para
denunciar problemas
A comemoração pelos 386 anos do Ver-o-Peso, a maior feira a
céu aberto da América Latina, foi marcada por reivindicações de feirantes e
ambulantes que ocupam o centro histórico da cidade, ontem. Logo que chegou ao
mercado do Ver-o-Peso, o prefeito Zenaldo Coutinho ouviu reclamações sobre a
falta de segurança no local, relatos sobre ações "violentas" da
Secretaria Municipal de Economia (Secon) para o remanejamento dos feirantes, e
a falta de garantias de trabalho para os ambulantes que serão transferidos das
ruas centrais do Comércio para o shopping popular da João Alfredo a partir do
dia 22 de abril.
O prefeito afirmou que o Ver-o-Peso é "prioridade
número um" do PAC Cidades Históricas em Belém. O projeto federal destina
recursos para a revitalização de centros históricos de cidades brasileiras.
Segundo Zenaldo, os termos do projeto ainda estão em discussão entre órgãos
municipais, representantes do Iphan e trabalhadores. Diante das reclamações e
solicitações feitas, Zenaldo se comprometeu a atender as lideranças de
ambulantes e feirantes em audiência a ser agendada após a Semana Santa.
Mais cedo, às 6 horas, fogos de artifício anunciaram o
início das comemorações pelos 386 anos do Ver-o-Peso. Em seguida, uma banda de
fanfarra começou a tocar ritmos carnavalescos.
Bolo tinha escudos de remo e Paysandu
O tom exaltado do discurso das lideranças de ambulantes e
feirantes no aniversário do Ver-o-Peso foi amenizado no momento do
"Parabéns a você", cantado em frente ao Solar da Beira. Este ano, o
bolo de 10 metros de comprimento trouxe uma novidade: o desenho dos símbolos de
Remo e Paysandu. Uma fila foi formada por pessoas tentando garantir um pedaço
do bolo confeitado com as cores do time de preferência. Após a distribuição do
bolo, o prefeito seguiu a pé até a praça do Relógio, de onde seguiu para uma
caminhada pelas ruas do Bengui.
Trabalhadores cobram explicação
Falando aos feirantes, Zenaldo Coutinho esclareceu
questionamentos sobre a ocupação das ruas transversais e o prédio da rua João
Alfredo que abrigará o segundo shopping popular de Belém, a partir de abril (o
primeiro é o Espaço da Palmeira, inaugurado por Duciomar Costa). Zenaldo
afirmou que o problema dos ambulantes será solucionado, mas que a Prefeitura
não aceitará a venda de produtos piratas. "Não é problema da Prefeitura,
me desculpem. É um problema com a polícia, que vive cobrando, em cima da Secon.
O pessoal que vende DVD pirata, eu sei que precisa trabalhar, que tem família,
mas não é problema que esteja na minha alçada resolver. Não tenho como
regularizar quem vende DVD pirata, e sei que temos vários aqui", afirma.
Sujeira e insegurança preocupam feirantes e afastam clientes
Para a comerciante Marlene Maksunaga, apesar da necessidade
de melhorias, sobram motivos para festejar o aniversário do Ver-o-Peso.
"Temos muito para festejar. Compro peixe no mercado e tinha até medo de
vir. Hoje, já acho que está melhor, mas pode melhorar mais, por exemplo, a
circulação nas calçadas e a questão da sujeira. Só o cheiro que não pode
acabar; já é característico", diz. A aposentada Domingas de Brito acredita
que ações da prefeitura para a limpeza e garantia da segurança na feira podem
atrair mais consumidores. "A Prefeitura está ajeitando as coisas por aqui.
Temos que confiar em Deus e, em segundo lugar, nas nossas autoridades. Tenho fé
de que vai melhorar", afirma Domingas.
Para quem visita pela primeira o Ver-o-Peso, como a professora
Ivanilda Oliveira, de Acará, a falta de organização chama a atenção. "Essa
feira, com esse ambiente, não deveria existir, porque tem peixe exposto na rua
sem nenhuma proteção. É preciso a colaboração de todos e a venda em um ambiente
mais adequado", observa.
Por outro lado, o feirante Pedro Paulo Ferreira, que
trabalha na rua vendendo peixe há 22 anos, alega que a bagunça "faz
parte" da feira. "O Ver-o-Peso é cartão postal pelas pessoas na rua,
pela bagunça. A Prefeitura deveria parar de perseguir a gente. Se tentar
transformar essa beleza dele, o povo vai estranhar e vai acabar com a nossa
venda", opina, acrescentando que a venda restrita ao mercado não garante o
sustento de todos os feirantes. Adailton Vila, que trabalha no mercado há 25
anos, cobra mais segurança. "Com certeza, tem muito o que comemorar e o
que melhorar. Por exemplo, a segurança, que aqui não temos muita",
reclama.
Prefeito promete debater questões
Após anunciar que o shopping popular foi liberado pelo Corpo
de Bombeiros para ser ocupado por feirantes remanejados da rua João Alfredo,
Zenaldo Coutinho foi interpelado por uma das lideranças presentes às
comemorações do aniversário do Ver-o-Peso, que criticou a atuação dos fiscais
da Secon e a indefinição sobre o novo prédio.
Zenaldo garantiu que manterá o diálogo com a categoria após
a Semana Santa sobre o remanejamento. "Nós vamos conversar e espero que
não precise tirar nenhuma banca da rua, que o próprio camarada tire. Eu fiz
questão de ouvir as lideranças para depois falar. Vim aqui para festa. Estou
fazendo as ações, marcando reunião. Não é pra esculhambar a festa do
Ver-o-Peso. Insisto em dizer, diálogo é pra ouvir, mas quando tiver
determinação para o conjunto, é respeitar", enfatizou o prefeito.
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